quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sistema Cantareira - Contagem regressiva para a morte do volume morto?

O descaso com que os governantes paulistas têm tratado nossas reservas hídricas é tão grave quanto a atual situação propriamente dita. Há precedentes de estiagem graves cujas consequências sentimos até hoje, porém nenhuma atitude foi efetivamente tomada. A imagem abaixo foi extraída de um estudo realizado em 2006 pelo Instituto Socioambiental, que previu a atual situação:



A Política Nacional de Recursos Hídricos – LEI Nº 9433/1997, vem sendo descumprida em vários artigos, como por exemplo, os incisos I e III do artigo 2º:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.


Some-se este descumprimento da lei ao sucessivo descumprimento das promessas, eternamente reprometidas, de despoluição do rio Tietê, às somas exorbitantes já gastas para esta despoluição desde 1993 e, recentemente, aos mais de 80 milhões de reais gastos para a estrutura de captação do “volume morto”.

Além de gastarmos bilhões de reais em 20 anos para despoluir SEM SUCESSO um rio morto e ainda gastarmos mais dezenas de milhões de reais em uma grande “gambiarra” cujo motivo foi a falta de investimentos e de planejamento na área de abastecimento, mesmo sabendo que tal construção foi inútil, pois o reservatório tende agora ao ZERO ABSOLUTO, deixou-se de investir em saneamento, por exemplo, o que pouparia custos com a saúde pública.

Os reservatórios somados têm hoje (24/07/2014) apenas 16,15% da capacidade total do sistema. Temeroso das perspectivas, comecei um pequeno estudo com o intuito de verificar quais as probabilidades de atingirmos o estresse total do Sistema Cantareira.
A figura abaixo foi retirada de uma tabela que criei a partir de dados já ocorridos, médias e estiagens históricas, todos oficiais:



Pode-se observar que, caso não seja tomada nenhuma atitude e se os índices de precipitação permanecerem escassos, o sistema entrará em colapso em meados de novembro/2014.

Agosto é, historicamente, o mês de maior estiagem do ano nas bacias do sistema PCJ, com média aproximada de 26 mm, enquanto que setembro possui média histórica aproximada de 55 mm. Para se ter uma ideia de como é este período, a média histórica para o mês de dezembro é de 202,07 mm e para janeiro é de 268,19. Este ano janeiro registrou apenas 97,42 mm, o que derruba um pouco a média histórica para o mês. Portanto, estamos em um ano de estiagem histórica, o que já aconteceu, como veremos abaixo, em anos não muito distantes:

Precipitações históricas no mês de julho


Precipitações históricas no mês de agosto


Precipitações históricas no mês de setembro


Caberia aos nossos órgãos de controle e aos nossos governantes uma estratégia URGENTE de racionamento, o qual deveria ter sido implantado há muitos meses e metros cúbicos atrás, já pensando nesta grande possibilidade de permanência da falta de chuvas, sem prejuízo, claro, de punições posteriores aos responsáveis por este descaso (para dizer o mínimo).


Nunca é demais lembrar que estamos às portas das eleições e que, para uma democracia saudável, sem vícios ou longos reinados, mudanças são absolutamente essenciais.



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Até a próxima...


4 comentários:

  1. A situação é clara até para mim que não sou especialista na área, fico me perguntando porquê as autoridades, que deveriam se preocupar com o bem estar da população, fazem descaso da urgência em minimizar esse problema. Concordo com você, estamos e muito atrasados no racionamento...será que não querem racionalizar com medo de criticas ao governo??? se a população pensar assim, é ainda mais absurdo!!!

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    1. O atual governador e candidato à reeleição está muito bem nas pesquisas, mas a tendência é que este conforto se reduza com o início do horário eleitoral e com os debates, principalmente porque ele coloca a culpa, que é dele e de seu partido há 20 anos no governo, no aquecimento global e nesta forte estiagem, que é histórica mas que não foi a única ocorrida em seu governo.
      Instituir agora o rodízio no abastecimento, depois de ter gastado mais de 80 milhões para captar água do volume morto alegando que isso resolveria o problema, seria endossar um atestado de incompetência e burrice.
      Porém a estiagem continua... Se não endossar o atestado, será cassado.

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  2. Rogério, boa tarde;
    Desenvolvemos processo que recupera áreas degradadas (Rios Tietê, Pinheiros e Baía da Guanabara) com a troca e descontaminação do solo. Realizamos a desidratação e descontaminação da areia e lodo depositados no leito. Com este material seco e inerte (100% livre de qualquer contaminante), obtemos "areia de ampulheta". A mesma, quando colocada no leito, absorve mais de 50% dos poluentes suspensos na água. Este processo elimina alto grau de poluentes e pode ser repetido inúmeras vezes. Os resultados obtidos mostram redução de 50% no nível de poluentes e proliferação de micro organismos que se alimentam de lodo e areia contaminados.

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  3. Boa tarde, Luis.
    Reitero minha resposta dada anteriormente via Linkedin: Grande trabalho, precisa ser divulgado.

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