quarta-feira, 8 de julho de 2015

Usinas Termoelétricas - O Estado de São Paulo na contramão do mundo

Há algumas décadas, cientistas do mundo todo elegeram os combustíveis fósseis como sendo os maiores responsáveis pela degradação do meio ambiente e apontam para as fontes de energia renováveis como a principal saída para o desenvolvimento sustentável. Mas infelizmente os governantes brasileiros não acompanham estas tendências mundiais.

O governador Geraldo Alckmin autorizou, e a EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia publicou em 07.07.2015 um Decreto chamando interessados em formar consórcio ou parceria em sociedade para a implantação e exploração de usinas termoelétricas movidas a gás natural.
Substituir gradualmente as matrizes energéticas não renováveis por tecnologias limpas: Este é objetivo ambiental mundial de longo prazo. Seria desnecessário expor aqui todos os malefícios sócio-ambientais causados pela queima de combustíveis fósseis, tamanha é a difusão, alcance e disponibilidade das informações sobre o tema. Mas parece que o governo do estado de São Paulo não dá importância aos estudos amplamente difundidos e segue caminhando em direção contrária.

Matéria: Governo lança pacote energético e SP vai ganhar seis usinas a gás



Segundo a matéria do link acima, serão gastos aproximadamente mais de R$ 6 bilhões para a implantação de 6 usinas, além de um gasoduto que também será construído para esta finalidade. O secretário de Energia João Carlos de Souza Meirelles afirma que Enquanto ele (o gasoduto) está sendo implantado nós vamos trazer gás natural liquefeito [...]. Esse gás pode vir de navio a uma temperatura de 250 graus negativos.

Pergunto eu: Se a energia solar é gratuita, se a energia eólica é gratuita, se a energia maremotriz (marés) é gratuita, por que desembolsar mais de 6 bilhões de reais em energia de matriz energética fóssil? E se todas estas fontes de energia que citei são renováveis, limpas e com baixíssimo impacto ambiental, porque caminhar na contramão da humanidade investindo em uma matriz extremamente poluente e não-renovável? Para que gastar milhões de reais para construir milhares de quilômetros de gasodutos se aquelas fontes renováveis podem ser captadas e convertidas "in situ"?


Matéria: Cinzas de termelétrica cobrem carros e invadem casas em Candiota, RS




O que também chama a atenção, por ser tão extremamente preocupante quanto a construção das usinas, é a afirmação do próprio governador do estado: "A construção de usinas a gás é a alternativa encontrada pelo governo nos tempos de crise hídrica, já que as hidrelétricas são as principais geradoras de energia. Evidentemente para ampliar o consumo de gás e sobretudo gerar energia elétrica a partir do gás que é a coisa mais rápida que temos, afirmou Alckmin".

Como assim "é a coisa mais rápida que temos"? Percebe-se aqui toda a falta de planejamento que permeia os governos paulistas. Esta ingerência e negligência crônicas foram as responsáveis, por exemplo, pelo estrangulamento do abastecimento de água em São Paulo. Os governos que se sucedem há mais de 20 anos sempre trataram o assunto "saneamento" como não prioritários, sempre socorrendo o setor exatamente desta mesma maneira, com obras rápidas, emergenciais, com um pobre pensamento imediatista sem preocupar-se com situações futuras. Como diria minha avó: "Correndo atrás do próprio rabo".

Ainda segundo o próprio governador, o gasoduto tem previsão para estar pronto em 7 anos. Porém, basta observarmos o Projeto Tietê, por exemplo, cuja previsão era de despoluição em 10 anos mas hoje, mais de 20 anos e 6 bilhões de DÓLARES depois, o rio continua morto. Ou então observar a que passos lentos o Metrô de São Paulo é construído.


Querem uma indignação mais "voluptuosa"? Segue abaixo o link de um estudo cujo título é "Um futuro com energia sustentável: Iluminando o caminho". O estudo foi feito (pasmem!) pela FAPESP, também conhecida como Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo... Pergunto: Para que serve a FAPESP???


Link: Relatório FAPESP "Um futuro com energia sustentável: iluminando o caminho"


No referido estudo consta a seguinte conclusão:

"A dependência de combustíveis fósseis para satisfazer a maior parte das necessidades mundiais de energia está no cerne do desafio da sustentabilidade que confronta a humanidade neste século. A combustão de gás natural, petróleo e carvão gera emissões de dióxido de carbono, juntamente com outras formas prejudiciais de poluição atmosférica. O número cada vez maior de usinas a carvão poderá criar passivos climáticos consideráveis durante as próximas décadas. Ao mesmo tempo, a perspectiva de uma competição global mais acirrada e potencialmente desestabilizadora por suprimentos de petróleo e gás natural relativamente baratos e acessíveis está, novamente, gerando preocupações urgentes sobre a segurança energética em muitas partes do mundo. Enquanto isso, para muitos países pobres, gastos com petróleo e outros combustíveis importados consomem uma grande parte das divisas que poderiam ser utilizadas para investir em crescimento econômico e desenvolvimento social."

A própria FAPESP enfatizou em seu estudo o senso mundial comum sobre a mudança das matrizes energéticas:

"Cada vez mais comuns em muitos países, as políticas governamentais – normalmente motivadas pelas mudanças climáticas e preocupações com a segurança energética – têm desempenhado um papel importante no estímulo aos recentes investimentos em energia renovável. Atualmente, pelo menos 45 países, incluindo 14 países em desenvolvimento, adotaram diversas políticas – muitas vezes combinadas – para promover a energia renovável."

Segundo seu próprio sítio, a FAPESP é "uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Com autonomia garantida por lei, a FAPESP está ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Inovação e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo.
Com um orçamento anual correspondente a 1% do total da receita tributária do Estado, a FAPESP apoia a pesquisa e financia a investigação, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida em São Paulo."


Em resumo, usinas termelétricas à gás são um pouco menos poluentes que outras à petróleo ou carvão, mas isto é muito pouco para investir-se bilhões apenas nesta alternativa que consome água e emite milhões de toneladas de resíduos particulados que causam poluição do ar e chuva ácida. Claro que o Brasil precisa desenvolver-se, crescer e permitir a geração de empregos e consequentemente a inclusão social, e óbvio que isto depende diretamente de sua capacidade energética, a qual tem andado em crise pois sua matriz é 70% hidráulica e temos atravessado épocas de fortes estiagens ocasionando a queda acentuada de rios e reservatórios. Mas percebemos que não há, por parte de nossos governantes, qualquer intenção em tornar este país mais ambientalmente correto e tornar este desenvolvimento sustentável. Estudos científicos apontam nessa direção então devemos orientarmo-nos por eles, caso queiramos que as futuras gerações possam também usufruir plenamente de nosso planeta.
O tempo está passando e apenas soluções imediatistas e paliativas são executadas, sem o mínimo vislumbre do futuro que nos espera.


Até a próxima e um abraço a todos...