quinta-feira, 28 de março de 2013

Água: Sabendo usar não vai faltar - II

Quase um terço da população da Terra, ou seja 2,2 bilhões de pessoas sofrem com a falta de água potável. Daqui a aproximadamente 20 anos serão 3,9 bilhões de pessoas com sede.


Figura 1 – Desigualdade no Acesso da População à Água Potável
Fonte: IBGE, 2003

A ONU - Organização das Nações Unidas estima que cada ser humano gasta em média 110 litros de água por dia em suas necessidades básicas, tais como preparo de alimentos, higiene, etc. O consumo varia entre 400 e 600 litros/hab./dia nos EUA e 1 litro/hab./dia, na Etiópia.

Graças a uma maior conscientização, mais e mais pesquisas vêm sendo feitas em busca de alternativas de melhor conservação dos recursos naturais do planeta. E um fato que está começando a ser levado em consideração é o de que também consumimos água apenas pelo simples fato de, por exemplo... comer(!). Essa constatação foi feita já há algum tempo pelo pesquisador e professor John Anthony Allan da Universidade de Londres, o que ele chamou de "água virtual" (virtual water) toda a água utilizada em processos industriais.

Quando tomamos uma taça de vinho estamos consumindo na verdade 120 litros de água que foram necessários à sua fabricação; e se o vinho for acompanhado por, digamos, uma fatia de queijo com 150 gramas, seriam mais 750 litros de água.
Suponha que, enquanto degusta um bom vinho e um belo pedaço de queijo, esteja lendo esta humilde postagem, goste e queira imprimir... Em cada folha de papel A4 utilizada foram gastos 10 litros de água!

Por conta deste estudo, o professor Tony Allan recebeu inclusive um prêmio do Stockholm International Water Institute, em 2008, pela relevância do trabalho e a denominação Água Virtual já vem sendo inclusive utilizada pela ONU. O estudo demonstra que a demanda por esse recurso natural é muito maior do que se imaginava e, em contrapartida, sua disponibilidade vem diminuindo.
De acordo com a agência Reuters, este instituto declarou que nos EUA uma pessoa média consome cerca de 7.000 litros de água virtual todos os dias, isto é, mais de três vezes o consumo médio de uma pessoa chinesa.

Soluções?


  • Educação e conscientização, tanto das populações quanto dos empresários e governantes.

  • Combate ao desperdício. Hoje em dia ninguém pode alegar desconhecimento, pois as regras todos sabem e são amplamente divulgadas. Por parte da população, evitar: banhos demorados, lavagem de calçadas com mangueira e usando água potável, etc. e etc. Para os governantes, reduzir ao mínimo as perdas existentes no serviço de abastecimento de água.

  • Aos empresários cabe uma grande fatia da sustentabilidade. O ato de reciclar ou de reusar é essencial. Quando reciclamos, por exemplo, latas de alumínio, estamos economizando todo o processo de extração da bauxita (matéria-prima) e a transformação desta matéria-prima mineral em matéria-prima industrializada, economizando água e energia; sem contar que estes resíduos, se reciclados, não irão parar em algum aterro sanitário onde levarão de 100 a 500 anos para se degradarem completamente.
Alguns links sobre o assunto 'água virtual':

http://exame.abril.com.br/economia/meio-ambiente-e-energia/infograficos/info-agua-secreta-das-coisas.swf

http://www.angelamorelli.com/water/#.UUh9xCSEsXA.facebook

http://noticias.terra.com.br/ciencia/conceito-de-agua-virtual-aumenta-alerta-sobre-escassez,e6b41d40b8d6d310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

http://www.waterfootprint.org/?page=cal/waterfootprintcalculator_indv


Dúvidas ou sugestões? Entrem em contato.

Um abraço a todos!!!

terça-feira, 26 de março de 2013

Água: Sabendo usar não vai faltar - I


Se partirmos do princípio que o Petróleo é o resultado de uma transformação química da matéria orgânica ao longo de milhões de anos, poderíamos afirmar que é um recurso energético renovável. Porém, as necessidades humanas são imediatistas, isto é, precisamos do recurso agora. Então, do ponto de vista prático, o Petróleo não é uma fonte de energia renovável.

- E a água, uma substância inorgânica, seria ou não renovável?

Todos os recursos hídricos do planeta são os mesmos desde sua origem até hoje. Ao contrário do Petróleo, não existem substâncias, sistemas ou reações químicas NATURAIS que possam produzí-la ou reproduzí-la. Portanto, considerando o mesmo ponto de vista do Petróleo, definitivamente não é um recurso renovável.

- Mas e as chuvas que invariavelmente desabam sobre nossas cidades e causam enchentes? E na Amazônia, que chove todos os dias... A água não tem fim!!

As chuvas que assolam sobre as cidades são resultado do CICLO DA ÁGUA: Os rios e o solo evaporam e as plantas transpiram, sobe o vapor, resfria-se, torna-se mais pesado que o ar e precipita-se em forma de chuva; um ciclo natural, infinito e perfeito. Este ciclo é o principal responsável pela depuração das águas desde o início da vida no planeta. Portanto, toda a água existente no planeta é a mesma desde sua origem; ela apenas muda  de lugar, atinge outras bacias distantes por meio dos rios principais e seus afluentes, ou por força dos ventos que empurram as nuvens para outras localidades, sem contar outros fenômenos de mudanças climáticas globais e locais. A depuração ocasionada pelo Ciclo da Água nos levaria a afirmar que ela é um recurso renovável, no sentido literal de RENOVAÇÃO, estar "nova de novo". Se o Ciclo da Água é infinito, se a água é sempre a mesma, não se cria e não se perde, apenas se transporta, então ela seria considerada INFINITA, isto é, não teria fim. Mas nós, seres humanos, estamos conseguindo mudar esta definição.
Quando uma indústria não trata seus efluentes, ou quando uma cidade não trata seus esgotos e ambos os despeja em rios, córregos, etc., a capacidade que aquele corpo d'água tem de diluí-los não será suficiente, tornando-o poluído e impróprio para o consumo. Além disso, quando há a evaporação, grande parte dos poluentes sobem junto com o vapor d'água e, quando há a precipitação, ocorre o fenômeno chamado de CHUVA ÁCIDA. Alguns desses corpos hídricos são utilizados no fornecimento de abastecimento de água, sendo necessário um tratamento adequado para o consumo. Mas vários deles já se encontram "mortos", sem quaisquer possibilidades de utilização, como por exemplo o trecho urbano do Rio Tietê, em São Paulo. Um rio morto significará também várias espécies da fauna e da flora mortos.
Portanto, a água tem fim SIM! A água potável ou em condições de tratamento para o consumo pode acabar.

Na próxima postagem falarei sobre a "Água Virtual" dos processos de produção. Até lá.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Dia 22 de março: Dia Mundial da Água

Diariamente vemos dezenas de postagens relacionadas à conservação ambiental.
Principalmente nós, graduandos e graduados na área Ambiental, fazemos isso até que instintivamente.
Hoje é 22 de março, Dia Mundial da Água. Onde estariam as instituições de ensino, neste dia e no resto do ano, que deveriam atuar em prol da comunidade, local e global?

Nós da Fatec-SP teremos, humildemente, nossa semana da água de 20 a 24/05. Mas cadê a USP, a UNIFESP, a UNESP, PUC, Mackenzie, IFSP, UNIP, São Judas, etc., etc.? Qual a mobilização sobre a situação ambiental atual? Qual a sugestão? Seus professores resumem-se em dar entrevistas para o Jornal da Globo, mas sair da zona de conforto ninguém quer. Se uma universidade como a Stanford pode, com frequência, promover debates públicos sobre o assunto, porque vcs dormem?
 

terça-feira, 12 de março de 2013

Saneamento é básico

De acordo com o IBGE (2010), 58,9% da população urbana possui coleta de esgoto e 41,1% possui fossas, despeja suas fezes "in natura" nos corpos hídricos ou não possui quaisquer sistemas, quer dizer, fazem ao ar livre. O agravante é que, dos 58,9% coletados, não se sabe ao certo o quanto é tratado antes de ser despejado. E isto de acordo com o próprio IBGE:

"É importante ressaltar que a estatística de acesso à rede coletora de esgoto refere-se apenas à existência do serviço no município, sem considerar a extensão da rede, a qualidade do atendimento, o número de domicílios atendidos, ou se o esgoto, depois de recolhido, é tratado".

Sem falar da população rural: 5,8% com Rede e 94,2% com fossas e etc. Detalhe: entre esses 94,2% estão 20,8% (6 milhões de pessoas) que simplesmente fazem suas necessidades ao ar livre.

Vale a pena baixar esses relatórios. Assim, quando falarem sobre erradicação de alguma coisa, informe-se melhor pois R$ 100,00 de renda mensal vai continuar matando crianças de até 5 anos por falta de saneamento e desnutrição.


http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_da_populacao/resultados_do_universo.pdf


terça-feira, 5 de março de 2013

Usinas Hidrelétricas: males necessários?

Este é o ponto de vista ambiental.

Entre todas as formas de geração de energia elétrica, as usinas hidrelétricas são aquelas que, DURANTE SUA OPERAÇÃO, causam menos impactos ambientais e geram a energia mais limpa. Mas o impacto gerado quando de sua construção é gigantesco, ao ponto de mudar totalmente todo o ecossistema da região.
A inundação de uma grande área sobre nichos ecológicos faz com que as espécies ali nativas migrem (fauna) ou deixem de existir (flora), portanto este bioma ficará desequilibrado devido à ausência de espécies, enquanto que o bioma para onde algumas dessas espécies migrarão também se desequilibrará.
Por outro lado, em seus arredores são construídas centenas de casas com infraestrutura, saneamento, etc. para receber as famílias de todas as pessoas envolvidas durante a construção, estrutura esta que, fatalmente, irá permanecer e receber mais pessoas com o passar dos tempos.
O ciclo hidrológico também é diretamente afetado, uma vez que o rio principal (talvegue) tem seu curso interrompido e uma área extensa é inundada, com um volume imenso de água reservado. O solo do reservatório permanecerá submerso, diferentemente de suas origens, e a evapotranspiração ocorrerá de forma diferente, pois a área do reservatório será muitas vezes maior do que a área do rio (maior evaporação) e não mais haverá a vegetação e as árvores de antes (transpiração); em consequência, as chuvas terão outra postura, seja de frequência, seja de intensidade. A bacia terá outra postura, afetando inclusive as bacias vizinhas.

Este é o ponto de vista sócio-econômico.

Hoje no Brasil, mais de 53 milhões de pessoas (27,3%) vivem com até 1 salário mínimo, sendo que 16 milhões destas vivem em extrema pobreza.
O PIB (Produto Interno Bruto) é um dos principais indicadores de uma economia. Ele revela o valor de toda a riqueza gerada no país. De acordo com o IBGE, o PIB cresceu 0,9% no ano passado, muito abaixo das previsões. Porém, de acordo com especialistas, há perspectivas de recuperação da economia brasileira.
Para que aquelas pessoas acima mencionadas deixem de ser sobreviventes e integrem a sociedade, somente há duas possibilidades: 1) ou as pessoas com vida mais estável doam parte daquilo que têm ou recebem àqueles menos favorecidos; 2) ou o país cresce, aumentando as exportações, aquecendo o comércio interno, investindo em infraestrutura e gerando empregos. Como é improvável considerar a primeira opção, resta-nos aquecer a economia.
Aumentar exportações, aquecer o comércio interno, investir em infraestrutura; para todos esses fatores, será necessário, obviamente, produzir mais energia. Não possuímos tecnologias nem recursos financeiros que possibilite a construção de usinas eólicas ou solares menos impactantes porém menos eficientes. Mas o país tem um potencial hidráulico gigantesco para gerar energia elétrica à partir dos desníveis de nossos corpos d'água. Mais de 95% de toda energia produzida no país advêm das usinas hidrelétricas, que é, portanto e por enquanto, nossa única opção.

O impasse é: deixamos de construir novas usinas e conservamos a natureza intacta, deixando de injetar bilhões de dólares no país e deixando de incentivar as pesquisas em novas tecnologias mais limpas e sustentáveis, condenando ainda milhões de pessoas à marginalidade e, quem sabe, à morte, ou construímos novas hidrelétricas, aceleramos a economia, incluímos socialmente as pessoas mas desequilibramos ainda mais nosso ecossistema para depois tentar reverter a situação ambiental?