sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Qual a dimensão que a SABESP, o Governo do Estado de São Paulo e a população têm das consequências desta crise?

Ao contrário do que é veiculado pela mídia, o nível do reservatório Cantareira não subiu uma vez sequer com essas últimas chuvas. Entre 06 de novembro e 05 de dezembro (hoje, encerrado ontem), houve uma queda de 3,42% no nível do reservatório.
Em números absolutos, isto representa um déficit de 33 milhões de m³ no balanço hídrico do reservatório, ou aproximadamente 1,1 milhão de m³ por dia.
Considerando que iniciamos o dia de hoje com um volume de 7,97% ou 75,7 X 106/m³ e a demanda é 1,1 X 106/m³/dia, precisamos que precipite durante este e o próximo mês o mesmo volume da demanda para que mantenhamos por volta de 60 dias à frente o fantasma do esgotamento total.
Porém, se considerarmos também o mesmo período do ano passado, onde o Sistema apresentou também um balanço negativo com queda de 4,29% e que a previsão de chuvas é de que esta tendência abaixo da média venha a se manter, as perspectivas são péssimas. Este é o cenário atual, sem maquiagens.

Vamos supor então que as preces são atendidas com bônus e caia um volume três vezes maior que o déficit, isto é, 100 milhões de m³!!! Puxa, seriam 100 - 33 = 77 milhões de m³ a mais nos reservatórios por mês até acabar o verão!!!
O verão dura 3 meses, então teríamos ao final do período de chuvas um nível no Cantareira de... escassos 32% cujos volumes mortos já não existiriam mais. Em seguida, voltaríamos ao início do longo período de estiagens COM OS RESERVATÓRIOS AINDA PRECÁRIOS!!!

Mas o que realmente assusta é assistir aos noticiários e verificar que as considerações dizem respeito à médio e longo prazo. Irresponsavelmente os nossos gestores da água continuam contando com as chuvas de verão e a bondade de São Pedro e até oram a Deus.



CPI da Sabesp: vereador tucano culpa São Pedro pela crise da água


Vereadores e diretor da Sabesp fazem oração por chuva em São Paulo para amenizar seca

Enquanto isso a SABESP, cujo santo padroeiro a partir de agora é São Pedro, segue sua vida normalmente e publicou sua nova tabela de preços a vigorar a partir de 27/12/2014. Confiram a atual e a próxima:

Tabela de preços em vigor até 26/12/2014

Tabela de preços em vigor de 27/12/2014 em diante

Na minha humilde opinião, aqui no Brasil, quando é necessário que uma norma ou lei seja cumprida, a única forma é mexer no bolso das pessoas que descumprem a determinação. Foi assim com a obrigatoriedade do cinto de segurança, a lei antifumo, a lei seca, etc.
Quando o assunto é consumo, já ficou provado que não cumprir metas não pode levar ao pagamento de multas, pois é inconstitucional. Mas nada impede de aumentar-se as tarifas. Vejamos os preços atuais:


  • A tarifa normal mais barata passa de R$ 0,0034 para R$ R$ 0,0036 (sim, milésimos de centavos...) e a mais cara passa de R$ 0,0145 para R$ 0,015.

Senhoras e senhores, estes são valores ridículos POR LITRO DE ÁGUA TRATADA E TRANSPORTADA ATÉ SEU LAR, JUNTAMENTE COM A COLETA DE ESGOTO.


Comentei já isto em outras redes sociais: O reajuste deveria ser de 200% pois há escassez de água, desconto não funciona e o rodízio sequer é cogitado.

Para minha surpresa, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES/SP publicou uma entrevista com o presidente do Conselho Mundial da Água, Sr. Professor Benedito Braga, o qual comunga da minha opinião. Eis alguns trechos:

"[...] não dá pra fazer a afirmativa que a escassez de água é devido às mudanças climáticas.


"Eu acho que a única forma a curto prazo de tratar esse problema é reduzir o consumo. Nós não temos nenhuma alternativa viável a curto prazo para trazer mais água para a população".

"A única alternativa que temos pra enfrentar a crise no curto prazo é reduzir consumo e a minha visão é de que as pessoas só entendem que um bem é escasso e precioso quando o custo dele é alto".


"A única coisa que funciona é o bolso, o sinal econômico. Propaganda em televisão já foi tentada, a Sabesp já fez isso. Mudar o padrão de consumo só através do mecanismo econômico".



Pois bem, mas há quem considere isto "um absurdo":

Moradores de São Paulo mostram indignação com aumento na tarifa da água

Qual a verdadeira dimensão que o povo paulista e paulistano têm da atual crise hídrica?
Qual a verdadeira dimensão que a SABESP e o Governo do Estado de São Paulo têm das consequências de sua inércia?


Enquanto isso, aos religiosos resta rezar. Como não sou religioso (sou "deísta"), escrevo...

Até a próxima.