segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Saiba um pouco mais sobre o tratamento do chorume proveniente de aterros sanitários

O chorume de aterros sanitários é um líquido altamente poluente, gerado naquelas instalações de duas formas: por decomposição de matérias orgânicas e na percolação (infiltração) da água das chuvas por entre todos os resíduos ali acumulados, perigosos ou não, arrastando consigo produtos químicos ali dispostos indevidamente. Por causar danos graves ao meio ambiente e aos seres humanos, o chorume não pode ser simplesmente descartado no solo e sim, obrigatoriamente, ser coletado para tratamento e posterior descarte de forma segura em corpos d’água.



A ORIGEM DO CHORUME

Os resíduos sólidos domiciliares, vulgarmente conhecidos como “lixo”, coletados nos municípios pelos serviços urbanos de coleta residencial porta-a-porta são compostos basicamente por: 50% de resíduos orgânicos ou úmidos e 50% de resíduos secos.
Os resíduos orgânicos (restos de alimentos, podas de árvores, etc.) possuem altíssimo teor de água em sua composição. Quando dispostos em aterros sanitários, alguns microrganismos encontram uma situação ideal e, visando alimentar-se, realizam a decomposição da parcela sólida, liberando assim os líquidos para o meio ambiente.
Já os resíduos secos são constituídos por materiais recicláveis (vidros, plásticos, etc.) e por rejeitos. Quando há coleta seletiva (ainda precária no Brasil), os recicláveis são triados e os rejeitos seguem para a disposição final no aterro sanitário sendo que, dentre estes últimos, podem ser encontrados pilhas e baterias gastas, recipientes com resíduos de tintas, solventes, medicamentos, papel higiênico, fraldas descartáveis, restos de curativos, gorduras e óleos vegetais, óleos combustíveis, enfim, uma infinidade de materiais perigosos ou contaminantes. Tais materiais são dissolvidos e/ou carreados para o solo ao entrarem em contato com as águas das chuvas.


COMPOSIÇÃO


O chorume tem coloração escura, forte odor e textura viscosa. Estas três características físicas já seriam suficientes para que fosse submetido à tratamento antes de ser descartado, porém, sua composição química o torna extremamente perigoso aos seres vivos e ao meio ambiente. Em geral, ele constitui-se de substâncias orgânicas, tais como o carbono e o nitrogênio carbônico, e substâncias inorgânicas, como o mercúrio, cobre, cádmio, chumbo, arsênio e cromo. Uma vez em contato com o solo, pode escoar superficialmente por efeito das chuvas e desaguar em algum rio, lago ou quaisquer outros corpos hídricos, bem como percolar no interior do solo e atingir lençóis freáticos. Ainda em fase líquida, sua porção orgânica continua em processo de degradação por microrganismos, gerando gases extremamente tóxicos, como por exemplo gás carbônico, gás metano e fenóis, entre tantos outros, pois combinam-se com as substâncias inorgânicas, alcançando rapidamente grandes distâncias.


TRATAMENTOS


Todo o chorume produzido no aterro sanitário é drenado até uma lagoa para tratamento ou tanque devidamente preparado para armazenagem e posterior encaminhamento. O tratamento pode ser realizado em duas modalidades: on site ou off-site.


- on site: todo o sistema de tratamento é realizado “in loco”, isto é, agregado às instalações do próprio aterro sanitário, sob os cuidados e recursos da própria empresa, a qual será ainda responsável pelo encaminhamento adequado do efluente já tratado. Devido aos altos custos, à necessidade de maiores áreas e à complexidade das tecnologias, é uma opção pouco adotada;


- off-site: o aterro não assume os riscos e custos operacionais pelo tratamento do chorume, implantando apenas as lagoas ou tanques de retenção provisória e encaminhando o chorume até empresas especializadas nesse trabalho. Não requer maiores áreas, mas o custo ainda é elevado.


De modo geral, o tratamento do chorume segue técnicas convencionais semelhantes às de tratamento de efluentes industriais, adaptadas às características extremamente complexas que o líquido geralmente possui, uma vez que ele é formado por uma grande diversidade de substâncias, diferentemente dos efluentes industriais que em regra possui pouca ou até praticamente nenhuma variedade. Além disso, a composição do chorume vai se modificando com o passar do tempo, pois mesmo quando o aterro tem sua capacidade esgotada e deixa de receber novos rejeitos, o material ali depositado ainda produzirá o líquido e sofrerá transformações, passando de lixiviado novo a lixiviado estabilizado. Portanto, o primeiro passo é realizar análises de amostras do efluente para poder qualificar sua composição e definir qual será o melhor tratamento (ou o mais adequado). Como padrão, as etapas de tratamento, já conhecendo sua composição, são as seguintes:


Tratamento bioquímico
Este tratamento é recomendado quando há possibilidade de realizá-lo “in situ”, isto é, no próprio aterro. Destinam-se a eliminar a matéria orgânica solúvel e em suspensão e baseiam-se em reações bioquímicas, as quais são realizadas por bactérias, protozoários e fungos, para a remoção de matéria orgânica. Estes microrganismos, aeróbios (necessita de oxigênio) ou anaeróbios (não necessita de oxigênio), utilizam a matéria orgânica como alimento, produzindo assim gás carbônico, água e lodo. Dentre os tratamentos, as lagoas de estabilização e o tanque de lodos ativados são os mais utilizados.


- Lagoas de estabilização: Este tratamento é composto por duas lagoas em série, sendo a) uma anaeróbia, mais profunda e menos extensa, onde os raios do sol não penetram e, portanto, não gera fotossíntese e ocasiona processos de degradação anaeróbios; e b) uma facultativa, menos profunda, porém mais extensa, cujo nome origina-se na ocorrência dos dois processos de degradação, sendo aeróbio durante o dia e anaeróbio durante a noite.


- Lodos ativados: São tratamentos aeróbios, com sistema de aeração (injeção de ar) onde uma parte dos lodos resultantes da degradação e com altas cargas de microrganismos são reintroduzidos em sua entrada, acelerando o processo e aumentando a sua eficiência.


Tratamento físico-químico
O chorume possui coloides (partículas microscópicas que não sedimentam e não são facilmente filtradas) e sólidos em suspensão (partículas maiores, mas de sedimentação lenta) as quais causam as características de cor, viscosidade e turbidez ao líquido.


- Coagulação-Floculação: Para remover coloides e sólidos em suspensão e ainda regular o pH para a próxima etapa é realizado um tratamento físico-químico primário, mais conhecido como coagulação-floculação. A coagulação consiste em adicionar agentes químicos (geralmente sulfato de alumínio) ao líquido objetivando neutralizar as cargas elétricas das partículas, uma vez que estes serão eletricamente atraídos por aqueles, sendo necessário para isso um turbilhonamento logo após a adição do produto para que a mistura seja eficiente. Tal neutralização será fisicamente realizada durante a floculação, onde o líquido com o coagulante terá sua velocidade reduzida e a agitação passa a ser muito lenta, facilitando a aglomeração de partículas junto ao coagulante e propiciando assim a formação de flocos.


- Sedimentação: Se antes as partículas dispersas na água não sedimentavam, isto é, não “afundam” no líquido, agora aglomeradas em flocos tornam-se pesadas e a retirada por meio de sua sedimentação torna-se possível. Os tanques de sedimentação possuem registros no fundo para facilitar sua retirada.


Tratamento por oxidação
Neste tratamento ocorre o aquecimento, a ebulição (fervura) e a evaporação do chorume, resultando na produção de água (após a condensação do vapor) e de lodo. O processo conduzirá ainda à destruição térmica dos microrganismos patológicos, resultando em um efluente de qualidade superior aos demais processos, com baixa produção de lodo, contaminação e carga orgânica.


CONCLUSÃO


Quando observamos a origem do chorume e os tratamentos necessários à sua estabilização e disposição final de forma segura, fica muito claro que existe atualmente tecnologia suficiente para que o tratamento deste poluente seja eficiente, mas que esbarra nas questões de custos e de espaço físico. Portanto, na realidade, fica implícito que a solução mais sustentável para o problema do tratamento do chorume é a adoção dos 3Rs (três “erres”) previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei Federal 12.305/2010: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, sendo que “reduzir” torna-se ao mesmo tempo uma atitude e uma consequência: “reduzir” é uma atitude quando conseguimos fazer com que a sociedade (população, empresários, etc.) conscientize-se sobre desperdício, consumismo e assim reduza a quantidade resíduos produzidos; assim como “reduzir” torna-se uma consequência ao disseminar o porquê destes atores sociais realizarem sua triagem de materiais visando algum reuso ou reutilização, ou talvez disponibilize seus resíduos de forma adequada para coleta seletiva ou encaminhe até postos de coleta, dos quais são encaminhados para usinas de reciclagem. Em resumo, reduzir o consumo reduzirá a produção de resíduos, mas reutilizar/reusar e reciclar também reduzirá, e isto significará redução de custos ao cidadão, redução de consumo de recursos naturais, de recursos hídricos, energia elétrica, poluição ambiental (pela redução da cadeia produtiva) e, por que não dizer, redução de recursos financeiros.


Um abraço a todos e até a próxima.