terça-feira, 5 de maio de 2015

Cobrança de ar ao invés de água nos hidrômetros domésticos: Verdade ou falta de informação?

INTRODUÇÃO - AS LENDAS URBANAS VIRTUAIS


O Brasil vem demonstrando o resultado sinistro de um processo político-social mal planejado e intencional: Uma “simbiose” entre o excesso de liberdade e a falta de educação formal.
Verificamos hoje o descrédito das tradicionais empresas jornalísticas, cada vez mais tendenciosas e sensacionalistas, procurando sobreviver à perda de sua audiência pulverizada entre as redes sociais. Tais redes (facebook, youtube, etc.) também perderam seus propósitos iniciais (meio de comunicação entre pessoas distantes, círculos de amizade, álbum de vídeos ou fotos, etc.) e tornaram-se uma espécie de “Exú virtual” (Exú: Entidade espiritual cultuada nas seitas afro-brasileiras cuja incumbência é, além de trabalhar como um “mensageiro” dos orixás, atender aos desejos humanos, independente se os pedidos são benéficos ou maléficos a alguém).
Pessoas são incriminadas ou endeusadas de forma efêmera e em alta velocidade, verdades tornam-se mentiras, mentiras tornam-se comoção nacional, desconhecidos transformam-se em campeões de audiência, teorias de conspiração absurdas multiplicam-se e são disseminadas e vociferadas cheias de ódio em troca de algumas “curtidas”...

No final do ano passado fiz algumas postagens sobre o uso indiscriminado, por parte da imprensa, de falsas informações ou de informações dadas sem o mínimo cuidado de verificar-se a veracidade ou procedência, importando-se apenas em alcançar objetivos escusos ou simplesmente preencher um espaço. Veja as postagens aqui ou aqui.

TEORIAS DE CONSPIRAÇÃO


Visando especificamente as áreas em que possuo algum conhecimento (hidráulica, saneamento, meio ambiente e adjacências), decidi “entrar de vez nessa dança” e contribuir um pouquinho com a quebra de algumas dessas “desinformações” que circulam em velocidade astronômica pela internet.

Para já iniciar exemplificando, no final do ano passado circularam alguns vídeos amadores de pessoas questionando o estresse hídrico do Sistema Cantareira, alegando teorias absurdas desde contrabando de água até o envolvimento dos “Iluminatti” (veja o vídeo aqui). Foram posteriormente desmentidos por matérias veiculadas por especialistas da área (veja o vídeo aqui), mas tais vídeos atingiram milhões de pessoas. Quantas dessas pessoas receberam informação contrária, desmentindo toda a baboseira? Quantas ainda acreditam em tais engodos?

Há um pouco mais de tempo vêm sendo postados vídeos por moradores de diversas regiões do Brasil reclamando sobre o “fornecimento de ar” que as concessionárias de serviços públicos de saneamento estariam cobrando dos consumidores no abastecimento de água. Selecionei aqui apenas três entre os vários existentes:

Vídeo 1
Vídeo 2
Vídeo 3


A pergunta que não quer calar: “Quando o ar entra no encanamento e faz o hidrômetro girar, a conta de água não aumenta?”.


De acordo com as concessionárias de abastecimento de água, o ar que entra na tubulação faz o hidrômetro rodar para frente (quando entra na tubulação) e para trás (quando sai da tubulação), portanto, o giro para um lado compensa o giro para o outro. Teoricamente falando, isto é verdade. Vejamos:


Sabemos que uma parte do abastecimento de água é feita por gravidade, porém isto nem sempre é possível. Invariavelmente há um grande desnível entre os reservatórios locais e as residências situadas em cotas muito mais altas. Para que a água chegue até estes consumidores é necessário uma pressão maior somente alcançada por meio de pressurizadores de água chamados boosters, que são bombas d’água de fluxo constante.

Quando a concessionária suspende o abastecimento para manutenção de bombas, da rede ou então por rodízio ou racionamento programado, haverá no sistema uma desaceleração brusca da velocidade da água nas tubulações que tenderia a parar e estabilizar-se gradativamente se não houvesse o mencionado desnível, isto é, se tubulação e reservatório estivessem nas mesmas cotas. Porém, o que se observa na prática, após a interrupção, é o movimento da água agora no sentido contrário, seja porque as residências estarão em cota (nível) mais elevada do que os reservatórios ou que os próprios boosters, seja porque a água obedece à lei hidráulica dos “vasos comunicantes” (vide mangueiras de nível). O fato é que toda a água existente nas tubulações retornará para as partes mais baixas da rede e se equilibrará assim que não houver mais “espaços” para onde escoar, o que irá variar principalmente devido ao consumo de água “da rua” (água da rede) nas regiões mais baixas, isto é, enquanto houver consumo nas regiões baixas haverá escoamento das regiões mais altas. Ao escoar das partes mais altas, a água da tubulação irá gerar outro fenômeno físico: A tensão trativa ou de arraste.
A tensão trativa (ou tensão de arraste) é definida como a tensão tangencial (ou cisalhante), exercida pelos fluidos sobre as paredes da canalização. Não entenderam? Eu explico em outras palavras: À grosso modo, tensão trativa é uma pressão negativa ou de sucção. Este fenômeno físico fará com que o ar que porventura exista na tubulação seja arrastado logo após a água.


Aqui poderia surgir uma pergunta: “Que ar seria arrastado se a tubulação deve ser absolutamente vedada e pressurizada para impedir a entrada de contaminantes advindos do solo?”. Teoricamente isto realmente não poderia ocorrer, mas na prática não é assim que funciona... Basta verificarmos os índices médios no Brasil de perdas físicas nas redes de abastecimento de água: 38% (em São Paulo este índice é de 33%). Tais perdas são ocasionadas principalmente por tubulações rompidas no subsolo e ligações clandestinas feitas de forma precária, que são portas de entrada para o ar ser arrastado dentro das tubulações.
Além disso, uma vez que as interrupções no abastecimento de água ocorrem sem data e/ou horário pré-determinado e estando os registros dos hidrômetros abertos, o escoamento (tensão trativa) atinge ainda a tubulação interna das residências, arrastando toda a água que estiver em contato com a tubulação ligada àquele aparelho de medição (isto não inclui o encanamento interno que estiver ligado ao reservatório – caixa d’água - da residência por tratar-se de outro sistema). Ao esgotar-se a água dos encanamentos, haverá o arraste de ar por meio da boia da caixa d’água que estará “aberta” se estiver abaixo de seu nível de abertura.

Pois bem, demonstramos até aqui que a entrada do ar seria apenas o retorno dele que, teoricamente até este momento, havia anteriormente escoado, o que se supõe não influenciar nas medidas realizadas pelo hidrômetro, uma vez que este aparelho funciona nos dois sentidos (demonstração no link acima).

Há algum tempo eu pretendia escrever algo a respeito deste assunto, principalmente após ter visto “pipocar” em diversas postagens enfurecidas no Facebook um dos vídeos acima exemplificados. Tentei por várias vezes comentar e acalentar a alma de várias pessoas e, em poucas palavras, justificar tais fatos, porém em vão. Esbarramos invariavelmente em determinadas pessoas que, no afã de denegrir uma empresa ou pessoa, deixam de ouvir a razão e agem apenas pela emoção. Ouvi frases tais como “isso do ar virar o relógio ao contrário eu nunca vi, mas girar com o ar entrando estou cansado de ver...” Como eu disse anteriormente, é mais fácil flagrarmos o momento da entrada de ar do que a saída, pois não há prévio aviso para o corte no abastecimento. Porém sempre aguardamos ansiosos a chegada da água... Assim, para que eu pudesse comentar algo sobre o assunto sem ser “carinhosamente” desacreditado pelos colegas, faltava ainda comprovar esta saída de ar e a marcação inversa do hidrômetro na prática.

Dias atrás, em minha casa, para que eu fizesse a manutenção da vedação do registro de uma torneira na pia da cozinha, vi-me obrigado a fechar o registro de entrada no hidrômetro, uma vez que não há esta “facilidade” dentro daquele ambiente. Para minha surpresa, antes de girar o registro, notei que os marcadores estavam girando ao contrário... Ali estava a prova que me faltava!!! De posse de uma câmera digital e com a ajuda de minha esposa, consegui captar alguns momentos finais do recuo do ar sendo arrastado e girando os ponteiros no sentido anti-horário, isto é, descontando o volume escoado.
Preparando esta postagem, fiz uma pequena pesquisa no youtube à procura de vídeos que denunciavam a tal “cobrança de ar” para ilustrar os dois lados do assunto, e deparei-me com outra surpresa: Encontrei pelo menos mais dois vídeos onde as pessoas alegavam estarem sendo enganadas pela concessionária devido à cobrança de ar, porém OS PONTEIROS ESTAVAM GIRANDO AO CONTRÁRIO! Não sei se foram movidas ou não pelas outras “denúncias”, mas o fato é que não perceberam estar registrando exatamente o oposto do que diziam.
Melhor “municiado” de provas incontestes, resolvi baixar tais vídeos e, juntamente com aquele que realizei montei uma pequena compilação, a qual também publiquei no youtube e que disponibilizo à seguir o link:


Acima de todas estas comprovações restou-nos um alerta: O alto grau de possibilidade de contaminação de nossas redes de abastecimento de água.

1º. Os altos índices de perdas físicas de água são potenciais portas de entrada de micro-organismos patogênicos e/ou de substâncias prejudiciais à saúde. Vale lembrar que no nosso subsolo estão também as tubulações coletoras de esgotos e de águas pluviais, as quais também podem romper e despejar um grande volume de águas residuárias a serem succionadas para o interior da tubulação de distribuição e de adutoras, aguardando o acionamento do bombeamento e consequente distribuição desta mistura nociva;

2º. A passagem de água e ar succionado das caixas d’água das residências (que na teoria não deveria ocorrer) para as redes públicas também pode ser uma porta de entrada de patogênicos. Toda a população está à mercê de uma contaminação originada nos reservatórios domésticos, seja por má conservação ou por mau uso, seja pela falta de uso ocasionada por residências fechadas, sem moradores, onde a proliferação de pragas, tais como ratos e pombos, pode ocasionalmente esconder seus ninhos ou seus óbitos.

Bloqueadores de ar


De acordo com os fabricantes, os bloqueadores de ar são dispositivos instalados APÓS o hidrômetro (instalar antes do aparelho é proibido e ocasiona multa) visando impedir o fluxo de ar porém permitindo a passagem de água.
Os fabricantes prometem até 50% de economia na conta de consumo, porém o dispositivo não possui certificação do INMETRO. Mas a maioria das concessionárias alega que, por não haver certificação ou regulamentação do dispositivo, sua utilização pode acarretar a contaminação de todo o sistema. Vejam algumas ocorrências:

- Em Bebedouro, interior de São Paulo, a concessionária local solicitou que os consumidores retirassem os bloqueadores instalados (vide matéria);

- Na cidade de Feira de Santana (BA), a câmara aprovou no ano passado um Projeto de Lei obrigando a EMBASA a instalar bloqueadores na residência dos consumidores que se sentirem prejudicados com a "cobrança de ar", mas ainda não foi sancionado pelo prefeito (vide matéria);

- A COPASA, concessionária mineira de abastecimento de água, colocou à disposição dos consumidores a venda e instalação espontânea àqueles que desejarem obter dispositivos com laudo de proficiência emitido pela UFMG ou pela UNIFEI, cobrando valores "bem salgados" e estabelecendo exigências rígidas para adaptação e fiscalização do aparelho, porém ainda assim deixa claro que tais dispositivos não produzem diferenças significantes no consumo, segundo testes realizados pela UFMG e divulgação do PROCON (vide matéria);

- O programa dominical Fantástico, da Rede Globo de Televisão, produziu uma matéria sobre o uso do dispositivo e o resultado de testes realizados pela USP São Carlos, porém sem uma definição conclusiva à respeito (vide o vídeo com a matéria).

Portanto tudo o que existe sobre o assunto Bloqueadores de Ar ainda está longe de uma posição definitiva, o que nos remete ao pensamento de que se não há aprovação do INMETRO, não se deve ser usado.
E na minha opinião pessoal, se partirmos do princípio de que não há perdas para o consumidor no balanço entre saída e entrada de ar que passa pelo hidrômetro, não há motivos para gastos com esse dispositivo.


Até a próxima!!!


Fontes (além daquelas inseridas no texto):


http://radios.ebc.com.br/revista-brasil/edicao/2015-03/perdas-de-agua-no-brasil-desperdicio-fica-em-torno-de-38

http://www.tecnocontrol.com.br/produtos/pressurizadores-tipo-booster/pressurizadores-de-redes-de-agua-tipo-booster/

http://www.samasa.com.br/dica.php?id=1&pagina=1



Fontes dos vídeos da compilação:

Vídeo 1

Autoria própria

Vídeo 2

Título: Vento encanado, novo serviço da Sabesp
Autor: Jonas Carvalho
Endereço: https://www.youtube.com/watch?v=siQjgW0igJU

Vídeo 3

Título: Hidrômetro roda ao contrário
Autor: Diário da Região
Endereço: https://www.youtube.com/watch?v=E-TO2d-8RTs

14 comentários:

  1. Após a leitura dessa publicação, como graduado em Engenharia Sanitária e Ambiental, gostaria de opinar e compartilhar minha opinião.

    1. "Os altos índices de perdas físicas de água são potenciais portas de entrada de micro-organismos patogênicos e/ou de substâncias prejudiciais à saúde."
    Perda física de água ocorre devido às altas pressões na rede de distribuição, fazendo com que a água saia por tubos rompidos, conexões, peças, fissuras, etc. Mas isso só acontece porque a rede está pressurizada, com valores entre 10 e 50 metros de coluna de água (segundo NBR 12218), mas sabemos que na prática encontramos valores próximos à 100mca em alguns sistemas mal operados. Ou seja, qual há a despressurização da rede, em caso do corte de abastecimento ou falta de pressão nas regiões mais altas, não há entrada de qualquer outro líquido (seja água subterrânea, esgoto, água contaminada...) dentro da tubulação, pois não tem pressão suficiente para isso (com exceção de redes rompidas).

    2. "Tais perdas são ocasionadas principalmente por tubulações rompidas... que são portas de entrada para o ar ser arrastado dentro das tubulações."
    O ar presente nos pequenos vazios das partículas do solo não tem volume para encher a tubulação, não existe (significativamente) a entrada de ar em tubulações rompidas, apenas o vazamento de água devido a pressurização da rede (os quais devem ser localizados e consertados).

    3. Resumindo minha opinião sobre isso: Entrada e saída de ar é algo totalmente necessário em qualquer sistema de conduto fechado devido a diversos tipos de manobras, como ligamento/desligamento de bomba, despressurização na rede devido à cortes de abastecimento ou perda de carga, enchimento/esvaziamento de reservatórios, descargas programadas da rede para manutenção, etc... Para isso, existe na rede de distribuição e adução de água as chamadas VENTOSAS, válvulas responsáveis pela entrada e saída de ar nas tubulações durante a operação do sistema, além de auxiliar na prevenção de danos provenientes dos transientes hidráulicos (golpe de aríete). Porém, sabemos que os sistemas existentes não são projetados adequadamente e operação longe do formato ideal, devido a falta de tecnologia para tal, à ampliação descontrolada e sem controle das redes (em face ao crescimento populacional seguir da mesma forma), inexistência de setores de distribuição/zonas de pressões no sistema, falta de controle/monitoramento operacional, etc, etc... Sendo assim, o ar que entra e sai da rede proveniente dos consumidores (válvulas das caixas d'água abertas), passando pelos hidrômetros, acaba auxiliando o sistema, tendo em vista à ineficiência operacional das ventosas. Deve ser por isso que as companhias de água não permitem a instalação de bloqueadores de ar. Visto pelo lados dos consumidores (clientes), não vejo problema na instalação de bloqueadores de ar após os hidrômetros, pois estes pagam apenas apenas para receber água, apesar do volume de entrada e saída de ar no hidrômetro seja praticamente o mesmo, na teoria. Vale ressaltar que a instalação dessa peça aumenta perda de carga na rede do consumidor, fazendo com que reduza a pressão disponível de abastecimento à sua caixa d'água/cisterna.

    Saudações,

    Eduardo Fernandes.

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    1. Caro Eduardo Fernandes:

      1) As perdas físicas de água existem por conta de tubulações velhas e em péssimo estado que se rompem com o passar do tempo devido às variações de pressão. Isto é um fato.
      Também é um fato, como você bem disse, que as redes de abastecimento de água trabalham à seção plena o tempo todo justamente para evitar a contaminação da água tratada. Porém, esta pressão torna-se negativa quando do desligamento das bombas, conforme o texto postado.
      Uma vez rompidas as tubulações, a pressão interna da ordem de até 100 KPa (como você também bem disse) irá fazer com que o vazamento de intensos jatos d'água ERODAM o subsolo e ocasione ao redor poças d'água. Bom, ocorrendo pressão negativa devido à interrupção no abastecimento, a tensão de arraste irá sugar para dentro da tubulação AR e ÁGUA, contaminada ou não. Quanto à pressão não ser suficiente para succionar a água empoçada no subsolo tenho que discordar novamente, pois estamos falando aqui de pressão de arrasto, aquela mesma que é parte integrante ESSENCIAL do dimensionamento das redes de esgoto pois impede que a deposição de detritos no fundo da tubulação ocasione uma obstrução.
      Portanto, HÁ SIM POSSIBILIDADE DE ENTRADA DE LÍQUIDO E AR pelas fissuras das tubulações.

      2) Meu comentário anterior responde grande parte desta sua segunda opinião, mas farei ainda um adendo. O texto diz o seguinte:
      "Tais perdas são ocasionadas principalmente por tubulações rompidas no subsolo e ligações clandestinas feitas de forma precária, que são portas de entrada para o ar ser arrastado dentro das tubulações.
      Além disso, uma vez que as interrupções no abastecimento de água ocorrem sem data e/ou horário pré-determinado e estando os registros dos hidrômetros abertos, o escoamento (tensão trativa) atinge ainda a tubulação interna das residências, arrastando toda a água que estiver em contato com a tubulação ligada àquele aparelho de medição (isto não inclui o encanamento interno que estiver ligado ao reservatório – caixa d’água - da residência por tratar-se de outro sistema). Ao esgotar-se a água dos encanamentos, haverá o arraste de ar por meio da boia da caixa d’água que estará “aberta” se estiver abaixo de seu nível de abertura".
      O fato de interpretar apenas um trecho do texto realmente faz com que a coisa fique um tanto "simplória" demais. Mas não se pode fazer um comentário com base em uma parte de todo um contexto. Eu afirmei que a entrada de ar dar-se-ia, resumidamente, por: tubulações rompidas, ligações clandestinas precárias e caixas d'água por conta dos hidrômetros abertos no momento da interrupção do fornecimento.

      3) Quanto às observações de sua opinião nº 3, o único comentário que faço é sobre a instalação de bloqueadores de ar: Da mesma forma que você citou a NBR 12218:1994, seria uma questão também de profissionalismo não recomendar a instalação de um dispositivo não regulamentado pelas normas técnicas e que estará em contato direto com o sistema de abastecimento de água.

      Um abraço Eduardo. Obrigado pela participação.

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  2. Para ilustrar um pouco mais gostaria de pedir àqueles colegas que ainda tiverem dúvidas, considerassem algumas outras fontes fidedignas sobre o assunto. Por exemplo:

    - O Ministério da Saúde publicou em 2006 o material de apoio "Vigilância e Controle da Qualidade da Água para Consumo Humano". Encontramos nas página 24 e 25 o texto abaixo:
    "As mais imprevisíveis e variadas situações podem ocorrer em um SAA, impondo riscos à saúde. Apenas como exemplos podem ser citadas as seguintes situações de risco:

    [...]
    c) ocorrência de pressão negativa em tubulação – adutora ou rede de distribuição – e conseqüente penetração de contaminante em seu interior;
    d) rompimento de redes e adutoras;
    [...]

    Link para a publicação: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigilancia_controle_qualidade_agua.pdf

    - A SANESUL descreve em seu sítio o sistema de distribuição de água. Entre as informações constam alguns cuidados a serem tomados para resguardar a qualidade da água na rede, entre eles:

    [...]
    7. em geral as juntas das tubulações não resistem a pressões de fora para dentro (subpressões). Em sistemas em que o fornecimento de água não é contínuo, nas horas em que não houver abastecimento haverá pouca ou nenhuma pressão na rede, podendo até ser negativa. Nessas ocasiões, há perigo de penetração ou sucção de água contaminada para dentro da rede. Assim, as boas condições de operação do sistema, evitando interrupções, diminuem a possibilidade de contaminação da rede.
    [...]

    Endereço da página:
    http://www.sanesul.ms.gov.br/conteudos.aspx?id=5

    - Em uma belíssima apresentação "Flash" feito pelo MEC sobre o tratamento da água, há a seguinte conclusão:

    "Embora saia potável das estações de tratamento, a água pode ser contaminada nas tubulações, quando há infiltrações ou rompimento, e nas caixas d'água de prédios e residências se elas não forem mantidas limpas. [...]".

    Link para a apresentação:
    http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/5035/open/file/index.html?sequence=8

    - O SAAE de Porto Feliz fala sobre a entrada de ar na rede:

    "6) Pode existir a incidência de passagem de ar pelo meu hidrômetro?

    Este fato pode ocorrer somente durante a interrupção do fornecimento de água no setor, [...].
    Nestas ocasiões, o ar é admitido nas tubulações das redes pelos ramais domiciliares por meio das bóias das caixas d'água, quando estas se abrem com o consumo de água da caixa das residências. Durante o processo de entrada de ar nas redes, que vem das bóias das caixas d`água, o hidrômetro pode girar ao contrário, ou seja, "desmarca" um certo volume. Quando o abastecimento retorna, o hidrômetro pode girar, registrando o volume que havia sido desmarcado durante a entrada do ar".

    Link:
    http://www.saaeportofeliz.sp.gov.br/SAAE/web/Dicas/Interna.aspx?id=I13031116021977

    Um abraço a todos.

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  3. Caro Rogério,

    sempre é complicado interpretar o operação de qualquer sistema. Para fundamentar qualquer ideia é necessário comprovação através de ensaios laboratoriais, testes em pilotos, equacionamentos, etc. Concordo com o seu texto e os pontos apresentados, apenas quis abordar alguns tópicos que não estavam claros para mim. Esse compartilhamento de informações foi ótimo, como projetista, sempre é bom "quebrar a cabeça" tentando entender o que ocorre na prática.

    Levarei os comentários número "1" e "2" a diante em conversas com outros profissionais (ou, melhor ainda, operadores dos sistemas). Obrigado pela resposta e compartilhamento de ideias. Apenas corrigindo a conversão de unidade: 1000kPA* = 100mca.
    Sobre o comentário número "3", foi apenas uma observação tendo em vista a minha "teoria" sobre essa passagem de ar funcionar como ventosas e ser necessário no sistema. Não quis defender nenhuma prática ou algum lado, apenas fundamentar a minha ideia.

    Grande abraço.

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  4. Boa tarde Eduardo.

    É verdade, eu acabei trocando o multiplicador de M para K.
    Você tinha razão quando disse que as ventosas são amplamente utilizadas ao longo da rede visando a "respiração" da tubulação nas interrupções e consequentes retomadas de operação, pois evita-se que elas entrem em colapso. A maioria desse ar tem origem nas boias das caixas d'água (reservatórios residenciais).
    As residências e edifícios dos países da Europa e da América do Norte não possuem caixas d'água, enquanto que no Brasil não há sequer uma casa que não tenha... Algumas possuem até mais do que uma. Quem estaria errado?

    Essa troca de informações, os questionamentos e as dúvidas são situações ideais nessa nossa área, principalmente com tanta desinformação veiculada e absurdos praticados pelos próprios governantes nesse campo, cuja visibilidade de investimento perante a população somente aparece quando a situação torna-se grave, à exemplo do atual estresse hídrico previsto há mais de 20 anos mas cuja inércia política poderá trazer o caos social.

    Agradeço seus comentários e estou à disposição.

    Um abraço.

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  5. Caro Rogerio,

    Acho muito interessante seu blog, e este tema me afeta pessoalmente, pois moro em lugar alto, sujeito a constante falta de água.

    O fato do hidrometro girar ao contrario indica que existe alguma compensação entre as medições de ar entrando e saindo. Mas não prova que as duas medições se anulem.

    Imagino estas hipoteses para a compensação ser imperfeita:
    1- É sabido que a precisão do hidrometro depende da vazão, e que com baixas vazões o hidrometro nem chega a registrar. As vazões do ar saindo são bem menores que as do ar entrando.
    2- Existe a possibilidade de o ar entrando ser concentrado nos pontos mais altos, enquanto o ar saindo poderia ser distribuido por mais consumidores.
    3- As pás do rotor do hidrometro funcionando ao contrario podem também não terem a mesma precisão.

    Em resumo, seria interessante ver um trabalho de pesquisa comparando as medições de ar entrando e saindo para verificar experimentalmente se as medições realmente se anulam.
    Fica a sugestão!

    Luiz Pannuti Carra

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    1. Caro Luiz, com relação à concentração de ar, você tem razão quando diz sobre entrar mais ar nos pontos mais altos do que nos pontos mais baixos, porém também sairá mais ar das residências de cotas altas do que nas de cotas baixas pois estas serão as últimas a sentirem a interrupção do abastecimento, portanto prevalece o mesmo princípio de girar em ambos os sentidos, com mais ou com menos volume de ar.

      E você também tem toda razão quanto às incertezas que envolvem este aparelho chamado "hidrômetro", pois o fato de ser mecânico e analógico deixa sua precisão à desejar, especialmente o aparelho doméstico projetado para baixas vazões.
      Caso você tenha visto uma compilação de vídeos que mencionei no texto (https://www.youtube.com/watch?v=02BtojNIJZE&feature=youtu.be), em um deles há uma vazão invertida (ar saindo) de 20 litros POR SEGUNDO. Claro que isto não é um padrão pois cada bairro é um caso, e por isso mesmo não dá para generalizar sobre mais ou menos ar sai ou entra.

      Talvez o balanço seja sim, como já ouvi falar, maior à favor da entrada do que na saída de ar em torno de 5% ou 10%. Considerando isto, em minha residência, por exemplo, onde tenho um consumo médio de 11 m³/mês isto significaria que eu esteja pagando entre 0,55 e 1,10 m³/mês, o que equivaleria a pouco mais de R$ 1,00 por mês sobre a conta (ou R$ 2,00 se contarmos o esgoto).
      Se considerarmos que no preço de nossas contas de abastecimento estão embutidos o custo das tarifas sociais, as perdas físicas e financeiras, etc., não consigo pensar em nada que compense fazer sobre isso HOJE.

      O que realmente preocupa é a entrada de poluentes e contaminantes nas velhas redes fissuradas, trincadas ou rachadas no subsolo, succionando águas de tubulações de esgoto ou de chuva também avariadas. Acho que primeiro deveriam substituir as tubulações antigas, acabar com esses riscos, reduzir drasticamente as perdas físicas e, aí sim, tomar uma atitude quanto aos velhos e ultrapassados hidrômetros e realizarem esses estudos que você bem sugeriu.

      Um abraço Luiz.

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  6. A explicação está incompleta, o ar que retorna pelo hidrômetro (e faz girar ao contrário) é apenas o que está nos tubos internos do imóvel, porém o ar que entra pelo hidrômetro (e faz girar no sentido "cobrança") é TODO O AR QUE SE CONCENTROU NAS TUBULAÇÕES DAS RUAS. No RJ, por exemplo, a CEDAE superfatura as contas por conta desse ar contido nas suas tubulações!!

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    1. Caro Gilmar, quando o nível de água no reservatório doméstico (também conhecido como "caixa d'água) abaixa, a torneira de boia (boia da caixa d'água) fica aberta. Quando há o corte de fornecimento, a primeira coisa que vai ser succionada é a ÁGUA da tubulação interna, depois o AR da tubulação interna e por último o AR QUE ENTRA pela torneira de boia aberta.
      Lembrando que fisicamente é impossível a água ser succionada se não houver pelo menos um registro ou torneira aberto.

      Portanto não há superfaturamento. O ar que entra na rede é o mesmo ar que sai.

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  7. Essa opinião não faz sentido e tampouco reflete a dura realidade exibida nas contas de água!
    A partir do momento em que passamos a fechar o registro do cavalete, todas as vezes que a CEDAE inexplicavelmente deixa de fornecer a agua, pararam de aparecer os valores extras na conta, essa é A REALIDADE!!!!

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    1. Caro Gilmar, ao fechar o registro do cavalete APÓS o corte, obviamente já houve o escoamento da água de sua tubulação interna para a rede, juntamente com algum volume de ar, e isto faz com que o hidrômetro gire AO CONTRÁRIO. Da mesma forma, se abrir o registro APÓS a normalização do abastecimento, não haverá a entrada de ar da rede para a sua residência o que faria os ponteiros girarem, portanto este seu procedimento ECONOMIZA os gastos de sua conta. Para que isto funcione todos os meses, todas as vezes que faltar e retornar o abastecimento deverá proceder desta mesma forma, o que convenhamos não é prático, principalmente considerando que, se não o fizer, NÃO HAVERÁ PREJUÍZO pois o ar que sai é o mesmo ar que entra.

      Finalizando, gostaria de esclarecer que toda esta matéria não se trata de MINHA OPINIÃO, e sim de estudos comprovados. Não recebo nada para defender esta ou aquela concessionária (nem quero) e apenas estabeleço a verdade de acordo com meus conhecimentos acadêmicos e práticos, pois isto é o mínimo que um profissional com ética deve fazer.

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  8. Prezado Rogério; entendi perfeitamente suas considerações, o que estou tentando dizer é que os "estudos comprovados" precisam ser refeitos, com mais acuidade e abrangência, pois não se refletem na prática, o ar que gira o hidrômetro a favor da empresa tem volume maior que o que sai da residência; ponto final!!

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  9. Rogerio, tenho visto toda a sua argumentacao sobre a entrada e saida de ar das tubulacoes e por conseguinte sua excelente defesa da tese de que nao se paga relevantemente valores por ar que entram na tubulacao. Contudo, o que se ve de firma empirica e pratica, atraves das experiencias dos consumidores é que a conta de todo mumdo que usou diminuiu. Os prolrios videos relatam isso. Entao, como explicar sua teoria diante dessa onservavao pratica? A que se deve essa reducao? Obrigado e parabens pelo blog

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    1. Obrigado pelas palavras, Leandro.

      O caso é o seguinte: De um lado nós temos alguns consumidores que divulgam oficialmente suas experiências e alegam a redução. Do outro lado temos instituições de pesquisa/ensino e órgãos públicos que, além de afirmarem não haver benefício palpável no uso dos bloqueadores, alertam que o uso desse equipamento coloca em risco a saúde da população por ser uma possível porta de entrada para a contaminação.

      Eu parto da seguinte pergunta: Por que os fabricantes não procedem da forma correta? Por que não investem em estudos técnicos necessários para uma certificação junto à ABNT?

      Os consumidores podem ser idôneos, mas a coisa tem que ser CIENTÍFICA. Haveria de ser feito um levantamento dos últimos 12 ou 24 meses para aferir o padrão de consumo do imóvel, verificar se houve rotatividade de moradores, se houve manutenções feitas nas instalações internas e alguns outros procedimentos e levantamentos técnicos necessários mas que, sem eles, fica impossível confiar apenas no depoimento do usuário. Desta forma, se não há estudos sobre a eficiência do produto ou, o que é mais importante, se não há estudos sobre a SEGURANÇA do produto, o uso não é aconselhável, sendo até proibido em grande parte dos municípios.

      Por isso seria de extrema importância que o fabricante do dispositivo saísse de sua zona de conforto e investisse em sua certificação.

      Um abraço.

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