quinta-feira, 18 de abril de 2013

Resíduos Sólidos - Visita ao aterro sanitário da Essencis em Caieiras


O aterro sanitário da Essencis em Caieiras/SP é hoje o maior da América Latina, em tamanho e recebimento, possuindo capacidade para mais de 3,5 milhões de metros quadrados de rejeitos de coleta urbana, sendo 65% provenientes da cidade de São Paulo, e o restante de 14 municípios.

Acolhe diariamente mais de 500 carretas trazendo 7.000 toneladas de resíduos (média), com os maiores picos ocorrendo nos finais de ano, chegando a 10.000 T/dia, empregando hoje 234 funcionários diretos e 198 indiretos.

O local onde está hoje instalada era uma área pertencente à Companhia Melhoramentos de Papel e Celulose, que a utilizava para o replantio de eucaliptos. A Essencis a adquiriu e, posteriormente, conquistou a licença de uso para o período de 30 anos.

De acordo com o funcionário, provavelmente a utilização da área se esgote antes mesmo do final dessa licença devido ao aumento da geração de resíduos. Ele alega, sem base de dados, que tal acréscimo deve-se ao fato da melhoria das condições e do poder aquisitivo da população em geral, e menciona ainda que, caso a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos, já comentada em outra postagem) seja realmente cumprida, o aterro pode ter sua vida útil ampliada em até 10 anos. Os funcionários do aterro contam com um serviço de lavanderia, obtendo diariamente seu uniforme de trabalho diariamente substituído, lavado e esterilizado.



Impermeabilização e utilização do solo

A escolha do local para este empreendimento considerou algumas configurações estratégicas: fundo de vale, distância de áreas urbanas, longe de lençóis freáticos, nascentes ou leitos de rios.
Para a impermeabilização (figura 1), vital contra a lixiviação ou percolação de chorume com riscos ao solo e/ou águas subterrâneas, foram adotados os seguintes procedimentos:

A)  Deposição e compactação de solo nativo, camada de 3 metros;

B) Deposição de argila, camada de 1,5 metros;

C)  Colocação de manta com geocomposto por Bentonita, esp. de 3,5 mm;

Figura 1 - Preparação do solo para recebimento dos resíduos

D) Colocação de manta com geomembrana em PEAD, sobre a manta anterior e nos taludes, sendo aterrada nas bordas para evitar seu escorregamento. Esta camada entra em contato com a água e enrijece-se.

E) Manta de geotêxtil permeável, que protegerá a camada anterior da ação das britas posteriores;

F)    Brita para drenagem;

G) Tubulação horizontal de PEAD, com suave inclinação e perfurada, utilizada para a drenagem do chorume, direcionando-o até as lagoas;

H) Outra camada de manta geotêxtil, visando à proteção da tubulação e evitando o entupimento dos furos;

I)    Brita para a drenagem

J) Neste ponto sobem gradativamente, à medida que vai havendo deposição dos resíduos, uma tubulação vertical em concreto, inicialmente perfurada, circundada por gabião para assegurar sua estabilidade. Neste estágio, o gás é queimado ainda no local, enquanto a tubulação não estiver conectada à tubulação que seguirá à planta;

Figura 2 - Modelo em maquete da estratificação do solo após
a finalização da área (encerramento da cota). Pode-se ver o
dreno dos gases gerados desde a primeira camada até a superfície.

É sobreposta e compactada uma camada de solo nativo, alternando com as camadas de lixo, minimizando ainda mais a liberação de gases e odores, e mantendo os resíduos efetivamente confinados.

Chorume


Todo o chorume drenado é direcionado para duas lagoas, das quais uma permanece apenas em stand by para questões emergenciais (figura 3). São gerados cerca de 40 a 50 m³/hora de chorume , o qual é enviado à SABESP para tratamento juntamente com o esgoto doméstico.

 
Figura 3 - Tanque de desague do chorume

Gases


O gás gerado na decomposição não é aproveitado, procedendo então sua queima para minimizar o impacto ambiental.

Figura 4 - Queimadores de gases

De acordo com o Protocolo de Kyoto e posteriores, a queima desse gás gera créditos de carbono. Existe um contrato entre a Essencis e uma empresa estrangeira para a venda desses créditos, cuja demanda de emissão estima um total de 3,2 milhões de toneladas em créditos, sendo que seu preço por tonelada vem se valorizando desde o início do contrato. Tal estratégia foi suficiente para pagar a construção da planta, passando a auferir lucros desde então. Futuramente haverá a construção de uma usina termoelétrica para aproveitamenteo deste biogás, em substituição à usina movida por óleo diesel, que consome cerca de 900 litros/hora de óleo. Possivelmente o contrato de crédito será renovado.

Encerramento da cota


Encerrada a cota e a fase, o correto seria fazer a composição inversa do solo (palavras do funcionário). 
Após 30 anos de licença ou esgotada a capacidade de uso, a empresa estará obrigada a permanecer monitorando a área quanto aos gases e chorume por mais 30 anos. Um projeto deverá ser adotado, após o encerramento: a construção de parques, áreas verdes, etc.

Nota: À título de esclarecimento, encerramento da cota, neste caso, é a altura pré-estabelecida que deverá atingir o aterramento antes do recobrimento.


Chegada dos Resíduos


Os rejeitos desse aterro são depositados pelos caminhões nos taludes (laterais do aterro), evitando assim que estes passem sobre o depósito.
Este setor é subdividido em módulos cujos resíduos são controlados e monitorados na entrada do aterro, anotando-se a composição. Deste modo será possível, em caso de identificação, por análise, de substâncias não qualificadas a este tipo de aterro, chegar à origem de cada módulo.

Figura 5 - Descarregamento de resíduos no talude do aterro

Há uma balança na entrada do aterro, onde os caminhões são pesados na entrada. Para apontar o peso total dos rejeitos, basta abater dessa pesagem o valor da tara do veículo. Segundo o técnico Sidnei, o preço médio é de R$ 50,00 por tonelada de lixo.
Para os funcionários que trabalham neste setor, o uniforme é descartável.


*Visita técnica realizada no 1º semestre de 2012


Até a próxima postagem.

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