terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

De repente, Califórnia...?

Não, esta não é uma postagem sobre o sucesso dos anos 1980 do músico, cantor e compositor Lulu Santos. O título é apenas uma alusão às referências que muitas pessoas vêm fazendo para "justificar" a atual situação de estresse hídrico que estamos passando.


Durante um dos debates ao vivo pela televisão, questionado sobre o problema da falta de água, Geraldo Alckmin recorreu a exemplos de outros países que estariam vivenciando um momento idêntico de estiagem, e citou a Califórnia, nos Estados Unidos da América.

O estado norte-americano da Califórnia enfrenta realmente uma seca histórica há 4 anos. Seus reservatórios estão com aproximadamente 50% da capacidade. O governador Edmund G. Brown Jr. declarou em janeiro  de 2014 emergência devido à seca e conclamou sua população a enfrentar o problema utilizando a água com consciência.

Sítio oficial do Estado da Califórnia

(Veja aqui a declaração de Brown)

(Vídeo com os californianos afirmando que "não desperdiçam água")


Quando fazemos uma citação, a ética obriga-nos a fazê-lo por inteiro, sem omissão, na íntegra. O então e atual governador "esqueceu-se" de mencionar fatos cruciais os quais, obviamente se mencionados, fariam com sua derrota fosse inevitável. Claro, afinal como ele poderia informar aos incautos eleitores que a estiagem na Califórnia já durava (no ano passado) 3 anos, mas seus reservatórios estavam com mais de 50% da capacidade, enquanto que o Sistema Cantareira, na mesma época, estava entrando no segundo volume morto pois o nível chegou a 5% por duas vezes. Como explicar que os gestores da Califórnia fizeram seu dever de casa, não é mesmo?

Como eu já disse algumas vezes, esta chamada "crise" tão propalada nada mais é do que um fenômeno normal da natureza, assim como as baixíssimas temperaturas e as nevascas ocorridas agora nos EUA, que a exemplo desta estiagem, ocorreram também no ano passado. São ciclos, alguns mais duradouros que outros, alguns mais intensos que outros.

Mas se são CICLOS, são previsíveis. Não no sentido de datas, isto ainda é quase impossível, mas no sentido de PRECAVER-NOS. Por exemplo: TODO profissional da área de infraestrutura hidráulica sabe que seus projetos devem atender a um horizonte onde há probabilidade de que um evento climático extremo possa ser igualado ou SUPERADO.
Por exemplo, se houve uma seca histórica há 80 anos atrás, então as próximas obras hidráulicas devem ser projetadas tendo por base este dado, de forma a prever uma estiagem ainda maior. Da mesma forma, um evento de chuva extremo terá sempre alguma probabilidade de voltar a ocorrer, então projeta-se uma estrutura com base nisto.

Para o abastecimento de água deve haver exatamente a previsão destes dois eventos: estiagem e chuva extremos. Mas isto não foi feito por aqui.

Na Califórnia, a atual estiagem é a terceira maior desde que iniciaram-se os monitoramentos por lá, há 119 anos. Vejam bem: É a TERCEIRA maior, e não a maior. Mas lá existem gestores que fazem sua lição de casa. Por isso que, apesar de a seca deles estar chegando no 4º ano, seus reservatórios ainda possuem um volume considerável. Mas mesmo assim, diversas alternativas estão sendo colocadas em prática, vários estudos foram feitos visando a provável manutenção desta situação por mais algum tempo e, o que é mais importante, seu gestor vindo à público conclamando sua população e esta, em ressonância, apoia as iniciativas. Este é o segredo: não esperar que a própria natureza resolva o problema.

Como disse o Governador Brown em seu pronunciamento:

"Este é um problema natural e precisamos aprender a conviver com a mãe natureza".

Em outras palavras: A natureza é assim mesmo; nós é que devemos nos adaptar a ela.


Um abraço a todos.

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